Os gentis-homens e Laurence sentiam tal apetite, e o jantar atraía-os a tal ponto que nem pensaram em mudar de fato, Vestidos como estavam, ela de amazona e eles de calção de pele branca, botas de montar e jalecas verdes, apresentaram-se no salão, onde os aguardavam, já, inquietos, o Senhor e a Senhora de Hauteserre. O pobre homem notara o vaivém dos jovens, e sobretudo a desconfiança com que o olhavam, pois que Laurence não o pudera tratar como tratara a criadagem. Eis porque na altura em que um dos filhos evitara responder-lhe, fugindo dele, viera dizer à mulher:
- Receio muito que Laurence ande outra vez fazer das suas!
- Que espécie de caça praticaram hoje? - perguntou a Senhora de Hauteserre a Laurence.
- Ah! um destes dias há-de saber da patifaria em que os seus filhos tomaram parte - tornou-lhe ela, rindo.
Ainda que ditas a rir, estas palavras fizeram estremecer a velha senhora. Catarina anunciou o jantar. Laurence deu o braço ao senhor de Hautessere, e sorriu da malícia que fazia aos primos, obrigando um deles a oferecer o braço à velha senhora, transformada em oráculo pelas convenções aceites.
O marquês de Simeuse conduziu a Senhora de Hauteserre à mesa. A situação tornou-se então tão solene que, findo o Benedicite, Laurence e os seus dois primos sentiram que o coração lhes palpitava violentamente. A Senhora de Hauteserre, que fazia os pratos, parecia impressionada com a ansiedade estampada no rosto dos dois Simeuse e na alteração que se pintava na" fisionomia dócil de Laurence.
- Passou-se alguma coisa de extraordinário? - exclamou ela, olhando para todos ao mesmo tempo.
- A quem está a dirigir-se? - Inquiriu Laurence.
- A todos - replicou a velha senhora.
- Pelo que me diz respeito, mãe, tenho uma fome de lobo.