A Senhora de Hauteserre, sempre muito perturbada, ofereceu ao marquês de Simeuse o prato que destinava ao mais novo.
- Sou tal qual como a vossa mãe; engano-me sempre, apesar das vossas gravatas diferentes.
Julgava servir o teu irmão - disse-lhe ela.
- Serve-o melhor do que pensa - articulou o mais novo, empalidecendo. Aqui o tem conde de Cinq-Cygne.
O pobre pequeno, tão alegre, entristecera para sempre; mas arranjou forças para fitar Laurence sorrindo e reca1car as suas mortais angústias. Num instante, o amante sumiu-se no irmão.
- Como? Teria a condessa finalmente escolhido? - exclamou a velha senhora,
- Não - tornou-lhe Laurence-, deixámos que a sorte decidisse, e a Senhora era o instrumento escolhido.
Contou então a conversa dessa manhã. O mais velho dos Simeuse, que via o irmão cada vez mais pálido, sentia a todo o instante a necessidade de gritar: «Casa tu com ela, que eu irei morrer, sim, eu morrerei!» Na altura em que ia servir-se a sobremesa, os habitantes de Cinq-Cygne ouviram bater à janela da sala de jantar, do lado do jardim. O mais velho dos Hauteserre, que foi abrir a vidraça, deixou entrar o cura, cujos calções se haviam rasgado na grade ao escalar os muros do parque.
- Fujam!... vêm prendê-los!
- Porquê?
- Ainda não sei, mas há ordem de prisão contra vós.
Estas palavras foram acolhidas com gargalhadas gerais.
- Estamos inocentes! - exclamaram os gentis-homens.
- Inocentes ou culpados - tornou-lhes o cura -, montai a cavalo e correi para a fronteira. Aí podereis da mesma forma provar a vossa inocência. Escapa-se de uma condenação por contumácia; não se escapa de uma condenação contraditória, obtida pelas paixões populares •e preparada pelos preconceitos. Lembrai-vos da frase do presidente de Harlay: «Se me acusassem de ter roubado as torres de Notre-Dame, começava por fugir».