Um Caso Tenebroso - Cap. 16: XVI - AS DETENÇÕES Pág. 173 / 249

- Não prende a Menina? - inquiriu Giguet.

- Deixo-a em liberdade sob caução, até a um mais amplo exame das responsabilidades que pesam sobre ela.

Goulard ofereceu a sua caução, pedindo apenas à condessa que desse a sua palavra de honra em como não tentaria fugir. Laurence fulminou o antigo picador da casa de Simeuse com um olhar pleno de altivez, olhar esse que convertera aquele homem em seu mortal inimigo, e uma lágrima lhe borbulhou nos olhos, uma dessas lágrimas de raiva, que anunciam um inferno de sofrimento. Os quatro gentis-homens trocaram entre si um olhar terrível e ficaram imóveis. O Senhor e a Senhora de Hauteserre, receosos de terem sido, enganados pelos quatro jovens é por Laurence, haviam caído num estado de estupor indizível. Cravados nas suas poltronas, aqueles pais, que viam arrancarem-lhes os filhos depois ~e tanto recearem por eles e de os haverem por fim reconquistado, olhavam sem ver, ouviam sem ouvir.

- Terei eu de lhe pedir que me sirva de caução, Senhor de Hauteserre? - gritou Laurence ao seu ex-tutor, que foi despertado por este grito, para ele claro e dilacerante como o som da trombeta do juízo final.

O velho enxugou as lágrimas que lhe vieram aos olhos, compreendeu tudo e disse à sua parente, em voz débil:

-Perdão, condessa...; bem sabe que lhe pertenço de corpo e alma.

Lechesneau, desde logo impressionado com o sossego daqueles culpados tranquilamente jantando, voltou aos seus primeiros sentimentos acerca da sua culpabilidade quando viu o pasmo dos parentes e o ar sonhador de Laurence, que procurava adivinhar o laço que lhe haviam armado.

- Meus senhores - disse ele, polidamente-, tenho-os por bem educados de mais para tentarem urna resistência inútil: sigam-me os quatro às cavalariças, onde é preciso arrancar, na vossa presença, as ferraduras dos vossos cavalos, que constituirão elementos importantes do processo, e demonstrarão, talvez, a vossa inocência ou a vossa culpabilidade.





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