Laurence, que torcia as mãos de desespero, ergueu os olhos ao céu num olhar desolador, pois só então se dava conta, em toda a sua profundidade, do precipício em que os primos haviam caído. O marquês e o jovem defensor aprovavam o discurso de Bordin. O pobre senhor de Hauteserre chorava.
- Porque não deram eles ouvidos ao abade Goujet, que queria que fugissem? - disse a Senhora de Hauteserre, exasperada.
- Ah! - exclamou o ex-procurador - se tivestes ocasião de os pôr a salvo e o não fizestes, vós próprios os matastes! A contumácia faz ganhar tempo, Com o tempo os inocentes esclarecem os casos, Este afigura-se-me o mais tenebroso que ainda vi na minha vida, e muitos e complicados tive ocasião de desenredar até hoje.
- É inexplicável para toda a gente, e até para nós - disse o Senhor de Gondreville. - Se os acusados estão inocentes é que outros deram o golpe. Cinco pessoas não se apresentam numa terra como por encanto, não arranjam cavalos ferrados como os dos acusados, não os imitam no seu aspecto exterior e não metem Malin num fosso propositadamente para perderem Michu, os Senhores de Hauteserre e de Simeuse. Os desconhecidos, os verdadeiros culpados, tinham um interesse qualquer quando• se meteram na pele destes cinco inocentes; para os encontrarmos, para lhes acharmos o rasto, precisaríamos, como o governo, de tantos agentes e tantos olhos quantas as com unas que existem num raio de vinte léguas em redor...
- É impossível- disse Bordin. - Nem vale a pena pensar nisso. Desde que as sociedades inventaram a justiça, nunca encontraram maneira de dar à inocência acusada poderes iguais àqueles de que o magistrado dispõe contra o crime. A justiça não é bilateral. A defesa, que não dispõe nem de espiões nem de polícia, não tem sequer a favor dos seus clientes o poder social.