Um Caso Tenebroso - Cap. 19: XIX-OS DEBATES Pág. 201 / 249

Quanto ao gesso que Gothard lhe trazia, respondeu, como em todos os seus interrogatórios, que o utilizara para consolidar uma das estacas da barreira do caminho vão.

O acusador público e o presidente pediram-lhe que explicasse como estava ele ao mesmo tempo na brecha, no castelo, e no alto do caminho vão a consolidar a estaca da vedação, sobretudo quando o juiz de paz, os gendarmes e o guarda-campestre declaravam tê-lo ouvido vir de baixo. Michu respondeu que o Senhor de Haute serre o repreendera por ele não ter feito aquela pequena reparação, que tanto desejava que se fizesse por causa das questões que aquele caminho podia suscitar com a comuna; fora, portanto, anunciar-lhe que a vedação estava consertada.

O Senhor de Hauteserre tinha, efectivamente, mandado pôr uma vedação no alto do caminho vão, para impedir que a comuna se apoderasse dele. Ao ver a importância que tinha o estado das suas roupas, e o gesso, cuja utilização não podia negar-se, Michu inventara aquele subterfúgio. Se, em justiça, a verdade se parece, por vezes, com a fábula, a fábula também muitas vezes se parece com a verdade. O defensor e o acusador, ambos eles atribuíram grande valor a esta circunstância, que se tornou capital, quer pelos esforços do defensor, quer pelas suspeitas do acusador.

Na audiência. Gothard, sem dúvida esclarecido pelo Senhor de Granville, confessou que Michu lhe pedira que lhe trouxesse sacos de gesso; até então mais não fizera que chorar sempre que o interrogavam.

- Porque é que o senhor ou Gothard não levaram imediatamente o juiz de paz e o guarda campestre até junto dessa vedação? - perguntou o acusador público.

- Nunca pensei que isso pudesse constituir uma acusação capital contra nós - tornou-lhe Michu.





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