Mandaram sair todos os acusados, à excepção de Gothard. Quando este ficou só, o presidente adjurou-o a que dissesse a verdade, no seu próprio interesse, dando-lhe a perceber que a sua pretensa idiotia acabara. Nenhum dos jurados o tinha por imbecil. Calando-se diante do tribunal, podia incorrerem penas graves; enquanto que se dissesse a verdade, possivelmente seria ilibado. Gothard chorou, vacilou e depois acabou por dizer que Michu lhe pedira que lhe levasse vários sacos de gesso; mas de todas as vezes o encontrara diante da casa. Perguntaram-lhe quantos sacos -lhe levara ele.
- Três - respondeu.
Um debate se estabeleceu entre Gothard e Michu para se saber se eram três contando com o que lhe levava no momento da detenção, o que reduzia os sacos a dois, ou três, exceptuando o último. Este debate concluiu-se a favor de Michu. Para os jurados houve apenas dois sacos utilizados: mas parecia haver já convicção sobre este ponto; Bordin e o Senhor de Granville julgaram necessário saciá-los de gesso e fatigá-los bastante, de forma ,a que eles acabassem por não compreender nada do caso. O Senhor de Granville apresentou conclusões tentando conseguir que fossem nomeados peritos para examinar o estado da vedação.
- O director do júri - disse o defensor - contentou-se em visitar o local, menos para fazer uma peritagem severa do que para ver nisso um subterfúgio de Michu; mas, em minha opinião, faltou aos seus deveres, e a sua falta deve-nos ser útil.
O tribunal nomeou, com efeito, peritos para saberem se uma das estacas da vedação havia sido recentemente consolidada. Pelo seu lado o acusador público quis tirar partido desta circunstância antes da intervenção dos peritos.
- Então o senhor - disse ele para Michu - escolheu uma hora em que já não há luz, das cinco e meia às seis horas, para consolidar a vedação sozinho?
- O Senhor de Hauteserre ralhara comigo.