Um Caso Tenebroso - Cap. 20: XX – HORRÍVEL PERIPÉCIA Pág. 216 / 249

E eis porquê. Os dois homens que se apoderaram da minha pessoa puseram-me a cavalo, na garupa atrás daquele que me vendara os olhos, e cujos cabelos eram ruivos como os do acusado Michu. Por mais estranha que a minha observação pareça não poderei calá-la, pois ela constitui a base de uma convicção favorável ao acusado, a quem peço que se não ofenda com isso. Amarrado às costas de um desconhecido, apesar da rapidez da cavalgada, não pude deixar de lhe experimentar o cheiro. Ora a verdade é que não reconheci no cheiro daquele homem o cheiro particular de Michu. Quanto à pessoa que por três vezes me trouxe alimentos, essa tenho a certeza de que a conheci. Era Marta, a mulher de Michu. A primeira vez reconheci-a pelo anel que lhe deu a Menina de Cinq-Cygne, e que ela se não lembrou de tirar do dedo. A justiça e os senhores jurados se encarregarão de apreciar as contradições que se verificam nestes factos, e que eu próprio ainda não sei explicar.

Murmúrios de aplauso e unânime aprovação acolheram o depoimento de Malin. Bordin requereu ao tribunal licença para fazer algumas perguntas àquela preciosa testemunha.

- O senhor senador está; portanto, convencido de que o sequestro de que foi vítima tem outras causas que não os interesses atribuídos pela acusação aos acusados?

- Evidentemente!... - retorquiu-lhe o senador; - mas ignoro quais os seus motivos, pois declaro que durante os meus vinte dias de cativeiro não vi ninguém.

- Acredita - interveio então o acusador público - que o seu castelo de Gondreville possa conter informações, títulos ou valores capazes de requererem uma busca dos Senhores de Simeuse?

- Não creio - disse Málin. - Nesse caso, estou convencido de que estes senhores eram incapazes de se apoderarem deles pela violência.





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