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- Oh! Sire, se vós tivésseis um amigo que se houvesse sacrificado por vós, abandoná-lo-íeis? Não o...?
- Vós sois uma mulher - replicou-lhe ele, com uma inflexão irónica.
- E vós um homem de ferro! - tornou-lhe ela, com uma dureza apaixonada, que lhe agradou.
- Esse homem foi condenado pela justiça do País - voltou ele.
- Mas está inocente.
- Criança!... - exclamou ele.
Pegou na Menina de Cinq-Cygne pela mão e conduziu-a até ao cabeço.
- Aqui tendes - disse ele, com a sua eloquência, a eloquência de Napoleão, que fazia dos cobardes valentes -. aqui tendes trezentos mil homens, e inoc-entes, todos inocentes também! Pois bem, amanhã trinta mil, estarão mortos, mortos pelo seu país! Entre os Prussianos é natural que haja, talvez, um grande mecânico, um ideólogo, um génio que será ceifado. Do nosso lado é mais que certo perdermos grandes homens desconhecidos.
Enfim, talvez veja morrer o meu melhor amigo! Acusarei disso Deus? Não. Calar-me-ei. Ficai sabendo, Menina, que devemos morrer pelas leis do nosso País, como aqui morremos pela glória - acrescentou, conduzindo-a de novo para a cabana. - Ide, voltai para França - disse ele, olhando para o marquês -, as minhas ordens seguir-vos-ão.
Laurence pensou que Michu obteria uma comutação de pena, e na efusão do seu reconhecimento, dobrou o joelho e beijou a mão do imperador.
- Vós sois o Senhor de Chargeboeuf? - perguntou então Napoleâo, vendo o marquês.
- Sou, Sire.
- Tendes filhos?
- Muitos filhos.
- Porque não haveis de dar-me um dos vossos netos? Seria, meu pajem...
«Ah! eis o alferes a deitar a cabeça de fora - pensou Laurence -, quer ser pago da sua graça».
O marquês inclinou-se, sem responder; felizmente o general Rapp precipitara-se na cabana.