Um Caso Tenebroso - Cap. 21: XXI - O BIVAQUE DO IMPERADOR Pág. 233 / 249

- Sire: a cavalaria da guarda e a do grão-duque de Berg não poderão juntar-se antes do meio-dia.

- Não faz mal - disse Napoleão, voltando-se para Berthier -, há horas de perdão para nós também; saibamos aproveitá-las.

A um aceno de mão, o marquês e Laurence retiraram-se e voltaram a subir para a caleche; o brigadeiro ensinou-lhes o caminho e conduziu-os até à aldeia, onde passaram a noite. No dia seguinte ambos se afastaram do campo de batalha ao som de oitocentas peças de artilharia, que troaram durante dez horas, e já no caminho souberam da espantosa vitória de Iena. Oito dias depois entravam nos arrabaldes de Troyes. Uma ordem do juiz supremo, transmitida ao procurador imperial junto do tribunal de primeira instância de Troyes, ordenava a libertação, sob caução, dos gentis-homens, enquanto aguardavam a decisão do imperador e rei; mas ao mesmo tempo era expedida, pelo tribunal, ordem para a execução de Michu. Estas ordens tinham chegado nessa mesma manhã. Laurence apresentou-se então na cadeia, em trajos de viagem. Conseguiu conservar-se ao pé de Michu, com quem nesse momento procediam à triste cerimónia que chamam toilette. O bom do abade Goujet, que pedira licença para o acompanhar ao cadafalso, acabava de dar a absolvição àquele homem, desolado por morrer ignorando o destino dos seus amos; por isso soltou um grito de alegria, quando Laurence apareceu.

- Já posso morrer! - exclamou.

- Foram indultados, não sei sob que condições - disse-lhe Laurence -, mas indultados estão; e tentei tudo por ti, meu amigo, apesar do aviso que me fizeram. Julguei ter-te salvo, mas o imperador iludiu-me com a sua graciosidade de soberano.

- Estava escrito lá em cima - murmurou Michu - que o cão-de-guarda devia ser morto no mesmo sítio em que mataram os seus velhos donos!

A última hora passou rapidamente.





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