Capítulo 8: VIII-UM RECANTO DA FLORESTA
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Em seis séculos, a Natureza cobriu as ruínas com o seu rico e pujante manto verde, e tão bem as escondeu, que do passado de tão belo convento nada mais restava além de uma ligeira cumeada, que algumas belas árvores ensombravam, rodeada de espessas moitas impenetráveis, as quais Michu, de 1794 para cá, se empenhara em tornar ainda mais espessas, plantando acácias espinhosas nos intervalos despidos de arbustos. Um pântano alastrava junto a esta cumeada, atestando a existência de uma mina perdida, que outrora, sem dúvida, determinara a situação do convento. Só o possuidor dos títulos da floresta de Nodesme teria podido reconhecer a etimologia desta palavra, com oito séculos de existência, e descobrir que houvera outrora um convento no centro da floresta. Ao ouvir os primeiros trovões da revolução, o marquês de Simeuse - que, obrigado a recorrer aos seus títulos, em virtude de uma contestação de propriedades, fora instruído, por acaso, desta particularidade, num pensamento reservado, facilmente explicável- pôs-se à procura das ruínas do convento. O guarda, que tão bem conhecia a floresta, ajudara, naturalmente, o amo nesse trabalho, e a sua sagacidade de selvícola facilitou-lhe a descoberta do local. Observando a direcção dos cinco principais caminhos da floresta, alguns dos quais já delidos, reparou que todos eles iam dar ao montículo e ao pântano, onde outrora deviam acorrer gentes de Troyes, do vale de Arcis, do de Cinq-Cygne e de Bar-sur-Aube. O marquês lembrou-se de sondar o montículo, mas, para proceder a uma tal operação, só lhe convinham pessoas estranhas à terra. Como as circunstâncias urgiam, acabou por abandonar as suas pesquisas, deixando no espírito de Michu a ideia de que aquela cumeada escondia ou um tesouro ou as fundações da abadia.
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