Eu sabia a que “nossos assuntos” ele se referia. O tema não me agradava mas achei que seria melhor ouvi-lo, já que ele fazia questão disso.
Sentamo-nos perto do farol, onde estávamos mais abrigados dos salpicos das ondas e onde havia menor possibilidade de sermos ouvidos por algum dos homens da tripulação.
- Estamos prontos para ouvi-lo, Ned. O que tem para nos dizer?
- O que tenho para dizer é muito simples - respondeu ele. - Estamos na Europa e eu proponho que ajamos, antes que os, caprichos do Capitão Nemo nos levem para os mares polares ou para a Oceania. Preparemo-nos para abandonar o “Nautilus”.
Confesso que esse tipo de conversa com Ned Land sempre me deixava deprimido. Eu não queria de maneira alguma servir de entrave à liberdade de meus companheiros. Ao mesmo tempo não sentia nenhum desejo de deixar o Capitão Nemo. Graças a ele e ao seu navio, eu ia completando os meus estudos submarinos e refazia o meu livro sobre essa matéria, em condições realmente excecionais. Teria eu outra ocasião como aquela para observar as maravilhas dos oceanos? Certamente que não. Eu não podia aceitar a ideia de abandonar o “Nautilus” antes do término da viagem que o capitão se dispusera a fazer comigo. Não me importavam as condições pessoais em que ela estava sendo feita.
- Responda-me francamente, Ned - falei, depois de uma pausa para refletir. - Você se aborrece a bordo? Lamenta que o destino o tenha posto nas mãos do Capitão Nemo?
Ele pensou durante alguns instantes, cruzou os braços e me respondeu com a franqueza que lhe pedi.
- Francamente não vejo razão para me lamentar desta viagem submarina. Ficarei contente por tê-la feito. Veja que estou falando como se ela já tivesse terminado, professor. Ou terminando. É isso que eu quero e é nisso que eu penso.