E era também ali que o Capitão Nemo ia buscar os milhões de que necessitava para os seus misteriosos empreendimentos. Havia sido para ele, e só para ele que a América entregara os seus preciosos metais. Ele, o herdeiro direto e único dos tesouros arrancados aos Nicas e a todos os povos derrotados por Fernando Cortez.
- Sabia que o mar continha tantas riquezas, professor? - perguntou-me ele, sorrindo.
- Sabia - respondi-lhe - que se calcula em dois milhões de toneladas a prata que se encontra em suspensão nas suas águas.
- Não duvido. Mas para extrair essa prata as despesas seriam superiores aos resultados obtidos. Aqui só tenho de apanhar o que os homens perderam em suas aventuras. Além desse, sei de mil outros teatros de naufrágios, cujos locais estão todos assinalados em meus mapas. Compreende agora por que sou tão rico?
- Compreendo, capitão. Permita-me no entanto dizer-lhe que ao explorar precisamente a Baía de Vigo, adiantou-se aos trabalhos de uma companhia legalmente constituída para esse fim.
- Que companhia?
- Uma sociedade que recebeu do governo espanhol o privilégio de procurar os galeões desaparecidos. Os acionistas esperam alcançar um enorme lucro, porque se calcula em quinhentos milhões o valor das riquezas perdidas aqui.
- Quinhentos milhões! - exclamou o capitão. - Poderiam estar aqui, professor, mas já não estão mais.
- Estou vendo que não. Portanto, avisar esses acionistas seria um ato de caridade. O que os jogadores lamentam, acima de tudo, não é tanto a perda de dinheiro, mas a morte de suas loucas esperanças. No entanto, lamento-os menos do que a milhares de infelizes aos quais tantas riquezas poderiam ser de grande valia, enquanto agora serão estéreis para sempre.