- Será um homem morto. Ele é um homem poderoso mas, com mil diabos, não é mais poderoso do que a natureza. Onde ela pôs os seus limites é preciso que todos os respeitem.
- Acho que você está certo, Land, mas eu gostaria de saber o que há por trás desse banco de gelo. Não há nada de mais irritante do que um muro.
- O senhor tem razão - disse Conselho. - Os muros foram inventados para estimular os sábios.
- Todos nós sabemos o que há por trás desse banco de gelo – falou Ned Land. - Só há mais gelo.
- Você tem certeza disso, Ned, mas eu não tenho. Por isso eu gostaria de ir lá ver - disse eu.
- Pois é melhor renunciar ao seu desejo, professor. Chegamos ao banco de gelo, o que já é muito e não iremos mais longe. Daqui o “Nautilus” terá que rumar para o norte, para a região dos homens honestos. Teremos de retroceder, Sr. Aronnax, queira ou não o Capitão Nemo.
De fato, apesar dos seus esforços, apesar dos seus poderosos meios para quebrar os gelos, o “Nautilus” estava reduzido à imobilidade. Normalmente, quem não pode avançar, pode voltar atrás. Mas na situação em que se encontrava o nosso submarino, recuar era tão impossível como avançar, porque as passagens tinham se fechado atrás de nós e o “Nautilus”, quase imóvel, não tardaria a ficar bloqueado.
Isso aconteceu com extraordinária rapidez. O gelo foi-se formando nos seus flancos e o imobilizou completamente. Comecei a achar que a conduta do Capitão Nemo era mais do que imprudente.
Ele estava na plataforma observando a situação. Aproximei-me dele e comentei
- Penso que estamos presos, capitão.
- Por que pensa isso, Sr. Aronnax?
- Porque não podemos andar nem para frente nem para trás. Para os lados também não podemos ir. Julgo que essa situação caracteriza bem o que eu chamo de “presos’”.