- Cinco noites e quatro dias e só temos ar para dois dias nos reservatórios - falei aos meus companheiros.
- Sem contar - replicou Ned - que uma vez libertos desta prisão continuaremos prisioneiros do banco de gelo e sem comunicação possível com a atmosfera.
Com todas essas reflexões pessimistas, mas absolutamente razoáveis, o trabalho continuou em ritmo acelerado. No entanto, eu já havia notado e falado só com o Capitão Nemo, que as paredes do fosso que estávamos abrindo, iam se fechando. No dia 26 de março retomei o meu trabalho de mineiro, escavando com disposição. Logo que comecei a trabalhar percebi que as paredes laterais e a superfície inferior do banco de gelo se engrossavam sensivelmente. Era visível que se uniriam antes do “Nautilus” poder se safar. A picareta quase me fugiu das mãos.
Parecia-me que estava entre as terríveis mandíbulas de um monstro e elas se fechavam inexoravelmente.
Naquele momento, o Capitão Nemo passou junto de mim. Toquei-lhe a mão e apontei para as paredes de nossa prisão. Ele me fez sinal para segui-lo. Regressamos a bordo e, tirado o escafandro, acompanhei-o até o salão.
- Sr. Aronnax, temos de tentar qualquer meio heroico, ou seremos esmagados por esta água que se solidifica como cimento!
- Estou de acordo, capitão. Mas o que havemos de fazer?
Ele começou a refletir, silencioso e imóvel. Eu notava quando uma ideia lhe surgia no espírito. Logo depois percebia que ele a afastava. Respondia negativamente a si mesmo. Finalmente falou:
- Água a ferver!
- Água a ferver? - exclamei.
- Sim, professor. Estamos fechados num espaço relativamente pequeno.
Talvez jatos de água fervendo constantemente injetados pelas nossas bombas, elevem a temperatura do meio e atrasem a congelação.