Talvez sábios acreditem.- Mas eu afirmo que me lembro perfeitamente de ter visto - disse Conselho com o ar mais sério que se poderia desejar - uma grande embarcação arrastada pelos tentáculos de um cefalópode.
- Viu isso? - perguntou o canadiano.
- Sim, Ned.
- Com os seus próprios olhos?
- Com os meus próprios olhos.
- E onde, se não se importa?
- Em Saint-Malo - respondeu Conselho, imperturbável.
- No porto? - perguntou Ned Land, irônico.
- Não. Numa igreja! - informou Conselho.
- Numa igreja! - exclamou o canadiano.
- Sim, meu amigo. Era um quadro que representava o polvo em questão, arrastando o navio.
- Ah! - Ned Land começou a rir. - Isso tem muita graça.
- De fato ele tem razão - disse eu. - Já ouvi falar desse quadro, mas o animal que representa foi tirado de uma lenda e vocês sabem o crédito que se deve dar a lendas, em matéria de história natural. Aliás, quando se trata de monstros a imaginação não tem limites. Não só se afirma que esses polvos podem arrastar navios, como também um certo Olaus Magnus fala de um cefalópode com uma milha de comprimento, mais parecido com uma ilha do que com um animal. Conta-se também que o bispo de Nidros construiu um dia um altar sobre um enorme rochedo. Acabada a missa, o rochedo pôs-se em movimento e voltou ao mar. Era um polvo.
- É tudo? - perguntou o canadiano.
- Não. Um outro bispo, Pontoppidan de Berghem, fala igualmente de um polvo sobre o qual podia manobrar um regimento de cavalaria.
- Interessantes esses bispos de antigamente! – disse Ned Land.