Podia ter sido um desses zumbidos originados pelo espírito oprimido, mas a verdade é que me pareceu ouvir um grito respondendo ao apelo do meu criado.
- Ouviste? - perguntei a ele.
- Sim, ouvi.
Conselho lançou mais um grito de socorro. Agora não podíamos ter mais dúvida. Uma voz humana respondia à dele. Naquele instante bati num corpo duro e me agarrei nele. Senti que era arrastado, que me puxavam até a superfície, que o peito se me aliviava e desmaiei. Recuperei rapidamente os sentidos e entreabri os olhos.
- Conselho! - murmurei.
- O senhor chamou? - ouvi a voz dele.
Naquele momento, aos últimos raios da lua que desaparecia no horizonte, distingui um rosto que não era o do meu criado.
- Ned! - exclamei.
- Em pessoa, professor.
- Você também foi atirado ao mar?
- Fui. Mas tive mais sorte do que o senhor, porque quase imediatamente encontrei um escolho flutuante e me agarrei nele.
- Um escolho?
- Ou, para dizer melhor, agarrei-me ao nosso narval. - Ao monstro?
- Nele mesmo. Agora sei por que o meu arpão não conseguiu furar-lhe a pele. É que este animal, Sr. Aronnax, é feito de chapa de aço.
Subi de imediato ao ponto mais elevado do objeto semi-submerso que nos servia de refúgio. Bati-lhe com o pé. Tratava-se evidentemente de um corpo duro, impenetrável, e não da substância mole característica dos mamíferos marinhos. O dorso escuro que nos suportava era liso e polido. Ao ser tocado produzia um som metálico.
Não podia haver mais dúvida. O animal, o monstro, o fenômeno que tinha intrigado todo o mundo científico, agitado e transtornado a imaginação dos marinheiros dos dois hemisférios, era algo ainda mais espantoso, porque tinha sido feito pela mão do homem.