O infeliz estava perdido. Quem conseguiria arrancá-lo ao poderoso abraço? Entretanto o Capitão Nemo tinha-se precipitado sobre o polvo e, com mais uma machadada, havia-lhe cortado outro tentáculo. O imediato lutava com fúria contra outros monstros que trepavam pelos flancos do “Nautilus”. A tripulação batia-se a golpes de machado, enquanto o canadiano, Conselho e eu enterrávamos as nossas armas naquelas massas carnudas. Um violento cheiro a almíscar invadiu a atmosfera. Era horrível.
Por um instante julguei que o infeliz apanhado pelo polvo seria arrancado àquele terrível abraço, porque dos seus oito tentáculos o animal já só tinha um, que brandia a sua vítima como se fosse uma pena. Mas no momento em que o capitão e o imediato avançaram para ele, o monstro
lançou uma coluna de líquido negro, segregado por uma bolsa situada no seu abdômen. Ficamos cegos. Quando a nuvem se dissipou, o calmar havia desaparecido e com ele o meu infeliz compatriota.
Que fúria nos impeliu então contra aqueles monstros! Dez ou doze polvos tinham invadido a plataforma do barco. Rolávamos no meio daqueles braços de serpentes que tingiam a plataforma e as águas de tinta negra. Parecia que os viscosos tentáculos renasciam como as cabeças da hidra. O arpão de Ned Land, de cada golpe, mergulhava nos olhos dos calmares e vazava-os. Mas o meu audacioso companheiro foi de repente apanhado pelos tentáculos de um monstro.
O meu coração quase rebentou de emoção e terror. O formidável bico do calmar estava aberto para Ned Land. O infeliz ia ser partido em dois. Lancei-me em seu socorro, mas o Capitão Nemo foi mais rápido. O seu machado desapareceu entre as duas enormes mandíbulas e, milagrosamente salvo, o canadiano levantou-se e espetou o arpão todo até o triplo coração do polvo.