Navegava ao acaso. Não conseguia afastar-se do teatro da sua última luta, do mar que havia devorado um dos seus.
Passaram-se dez dias. Só no dia 1° de maio o “Nautilus” tomou decididamente a direção norte, depois de ter avistado as Lucaias, à entrada do Canal das Baamas. Seguíamos então a corrente do maior rio do mar, que tem as suas margens, os seus peixes e as suas temperaturas próprias, a Gulf Stream.
Na verdade é um rio que corre no meio do Atlântico, livremente, e cujas águas não se misturam com as do oceano. É um rio salgado, mais salgado do que o mar ambiente. O volume invariável das suas águas é mais considerável do que o de todos os rios do globo.
A verdadeira origem da Gulf Stream, reconhecida pelo Capitão Maury, o seu ponto de partida, fica situado no Golfo da Gasconha, onde as águas, ainda de fraca temperatura e cor, começam a formar-se. Desce para o sul ao longo da África Equatorial, aquece as águas da zona tórrida, atravessa o Atlântico, atinge o Cabo de São Roque na costa brasileira e bifurca-se em dois ramos, um dos quais vai ainda saturar-se de moléculas quentes no Mar das Antilhas. Então, a Gulf Stream, encarregada de restabelecer o equilíbrio entre as temperaturas e de misturar as águas dos trópicos com as águas boreais, começa o seu papel de moderador.
Aquecida ao máximo no Golfo do México, sobe para o norte ao longo da costa americana, avança até a Terra Nova, desvia-se sob a pressão da corrente fria do Estreito de Davis, retoma o caminho do oceano, seguindo sobre um dos grandes círculos do globo a linha loxodrómica, divide-se em dois braços no quadragésimo terceiro grau, um dos quais, ajudado pela monção do nordeste, regressa ao Golfo da Gasconha, depois de ter aquecido as costas da Irlanda e da Noruega, ultrapassa Spitzberg, onde a sua temperatura desce a quatro graus, e vai formar o mar livre do pólo.