À noite, já tínhamos percorrido duzentas léguas do Atlântico. Fez-se escuro e o mar foi invadido pelas trevas até o aparecimento da lua. Voltei ao meu quarto, mas não consegui dormir. Tive pesadelos. A horrível cena da destruição repetia-se no meu espírito.
Quem poderia nos dizer até onde nos levava o “Nautilus” na bacia do Atlântico Norte? Sempre a grande velocidade, sempre no meio das brumas hiperbóreas. Teria tocado as extremidades de Sptizberg, nas costas da Nova Zelândia? Teria percorrido os mares ignorados, o Mar Branco, o Mar de Kara, o Golfo de Obi, o Arquipélago Larrov e as praias desconhecidas da costa asiática? Não sabia. Já não sabia calcular o tempo que ia passando. Os relógios de bordo tinham sido parados. Parecia que a noite e o dia, como nas regiões polares, não seguiam o seu curso normal. Sentia-me arrastado para o domínio do estranho, onde a imaginação famosa de Edgar Poe se movia tão a vontade. A cada instante esperava ver, como o fabuloso Gordon Pym, “esse rosto humano velado, de proporções mais avantajadas do que as de qualquer habitante da terra, à espreita da catarata que protege as proximidades do pólo”.
Calculo, mas talvez me engane, que aquela corrida aventurosa do “Nautilus” se prolongou por quinze ou vinte dias e não sei por quanto tempo continuaria se não fosse a catástrofe que lhe pôs fim. O Capitão Nemo desaparecera. O imediato também. Não se via um único homem da tripulação. O “Nautilus” navegava quase sempre sob as águas.
Quando subia à superfície para renovar o ar, os alçapões abriam-se e fechavam-se automaticamente. Já não faziam o ponto e eu não sabia onde estávamos.