Portanto, os olhos não tardaram a fechar-se por trás do espesso vidro e mergulhei numa sonolência invencível, que até então tinha sido combatida pela marcha. O Capitão Nemo e o seu robusto companheiro, estendidos naquele líquido cristalino, também se entregaram ao sono.
Não posso precisar por quanto tempo permaneci naquela letargia, mas quando acordei pareceu-me que o sol se punha no horizonte. O capitão já se erguera, e eu começava a desentorpecer os membros quando uma inesperada aparição me fez levantar bruscamente.
A alguns passos de distância, uma monstruosa aranha do mar, com um metro de altura, olhava-me com os seus olhos vesgos, prestes a atirar-se sobre mim. Embora o meu escafandro fosse suficientemente espesso para me defender contra as mordeduras da aranha não pude evitar um movimento de horror. O Capitão Nemo apontou ao seu companheiro o hediondo animal, que foi imediatamente abatido com uma coronhada. Vi as horríveis patas do monstro contorcerem-se em convulsões terríveis.
Esse episódio levou-me a pensar que outros animais ainda mais temíveis habitavam aquelas profundidades e que o meu escafandro não me protegeria contra os seus ataques. Até então ainda não me ocorrera tal ideia e decidi ter mais cuidado.
Por volta das quatro horas, aquela maravilhosa excursão chegou ao seu termo. Erguia-se diante de nós uma muralha de rochas soberbas, blocos gigantescos, enorme falésia de granito com grutas obscuras, mas sem nenhum caminho praticável. Eram as escarpas da ilha Crespo. Era a terra.
O capitão parou de repente. Com um gesto indicou-nos que fizéssemos o mesmo. Ali acabavam-se os seus domínios e ele não queria ultrapassá-los.