Ele continuou a falar:
- Repare: desperta com as carícias do sol. Vai reviver a sua existência diurna. É um estudo interessante seguir o funcionamento do seu organismo. Possui pulso, artérias, espasmos e dou razão ao sábio Maury, que descobriu no mar uma circulação tão real como a circulação sanguínea nos animais.
Era evidente que o Capitão Nemo não esperava qualquer resposta minha, e pareceu-me inútil pronunciar as habituais banalidades. Após uma breve pausa, ele continuou :
- Os sais encontram-se em quantidade considerável no mar. Se extraíssem todos os sais que o mar contém em suspensão, obteríamos uma massa de quatro e meio milhões de léguas cúbicas. Essa massa, espalhada no globo terrestre, formaria uma camada com mais de dez metros de altura. E não pense que a presença desses sais se deve a um capricho da natureza. Não! Tornam as águas marinhas menos evaporáveis e impedem o vento de lhes roubar uma quantidade demasiado grande de vapores que, ao se liquefazerem, submergiriam as zonas temperadas. Papel importante e imenso, papel moderador na economia geral do globo terrestre.
Ao falar desse modo, o Capitão Nemo transfigurava-se, o que provocava em mim uma extraordinária emoção.
- Aqui - continuou ele - existe a verdadeira vida. Imagine a fundação de cidades aquáticas, de aglomerados de casas submarinas que, como o “Nautilus”, subissem todas as manhãs à superfície dos mares para respirar. Cidades livres, cidades independentes! E daí, talvez algum tirano...
O Capitão Nemo disse essas últimas palavras e fez um gesto violento.