Rapidamente depenados e espetados num pau, foram assados numa fogueira. Devorados até os ossos, nós os achamos excelentes. A noz-moscada de que costumam alimentar-se essas aves dá-lhes um sabor delicioso à carne.
- E agora, Ned, o que lhe falta? - perguntei ao canadiano, ao terminarmos o repasto.
- Um quadrúpede, Sr. Aronnax. Esses pombos não passam de acepipes, de guloseimas. Enquanto não matar um animal que nos brinde com costeletas, não me sentirei satisfeito.
- Nem eu, se não apanhar uma ave-do-paraíso - falei.
- Continuemos portanto a caça - propôs Conselho - mas em direção ao mar. Chegamos às primeiras montanhas e acho que é melhor voltarmos à região das florestas.
Era uma proposta sensata e foi seguida. Após uma hora de marcha chegamos a uma floresta de salgueiros. Algumas serpentes inofensivas fugiam à nossa aproximação. As aves-do-paraíso desapareciam assim que nos viam e eu já me desiludia de apanhar uma delas quando Conselho, que ia à frente, abaixou-se de repente, soltou um grito de triunfo e correu para mim trazendo na mão uma delas.
- Você deu um golpe de mestre, Conselho! - elogiei-o, realmente admirado. - Apanhar uma ave-do-paraíso viva, à mão, não é façanha para qualquer um.
- Se o senhor a examinar de perto, verá que não tive grande mérito, professor - disse-me ele. A seguir, explicou o pouco valor de feito, em seu próprio julgamento: - Esta ave está bêbada pela noz-moscada que devorava quando a peguei. Veja, amigo Ned, veja o resultado da intemperança!
- Com mil diabos! - retrucou o canadiano. - Há dois meses que nem cheiro gim!
Entretanto, eu examinava a ave constatando que meu criado não se enganara.