Percebi que ele fixava um ponto determinado, permanecendo imóvel durante alguns minutos. Depois baixou o óculo e trocou uma dezena de palavras com o imediato, que estava visivelmente emocionado. O capitão mantinha-se frio e parecia fazer certas perguntas que o seu auxiliar respondia com afirmativas formais.
Enquanto eles conversavam, eu olhei diversas vezes na direção em que o capitão tinha olhado e não vi coisa alguma. O céu e a água confundiam-se na linha do horizonte com uma perfeita nitidez.
Entretanto, o Capitão Nemo andava de um extremo ao outro da plataforma, parecendo ignorar a minha presença ali. O seu passo era seguro, mas menos regular do que o habitual. Às vezes parava, cruzava os braços e observava o mar.
O imediato tornara a pegar no óculo e olhava obstinadamente o horizonte, de um lado para o outro, batendo com o pé, contrastando com o capitão pelo seu evidente nervosismo. Em dado momento, ele chamou de novo a atenção do seu superior para o horizonte. O Capitão Nemo parou o seu passeio e dirigiu o óculo para o ponto indicado. Observou por um longo tempo na mesma direção. Intrigado para saber o que estava acontecendo naquele ponto longínquo, que prendia tanto a atenção deles, desci ao salão e peguei um excelente óculo de longo alcance que costumava utilizar. Apoiando-o na caixa do farol, saliente na frente da plataforma, preparava-me para ver toda a linha do céu e do mar. Ainda não tinha posto o óculo em posição e ele me foi arrancado das mãos.
Voltei-me e vi o Capitão Nemo diante de mim, chamando-me logo a atenção a sua fisionomia alterada. As sobrancelhas franzidas, os olhos brilhantes, o corpo tenso, todo o seu aspeto era o de um homem enraivecido.