Felizmente nada nos ligava a ele. Nem sequer éramos prisioneiros sob palavra. Não nos unia qualquer compromisso de honra. Não passávamos de cativos, de prisioneiros disfarçados sob o nome de hóspedes por uma simples amabilidade. No entanto, Ned Land ainda não renunciara à esperança de recuperar a liberdade, e não deixaria de aproveitar a primeira oportunidade que lhe surgisse. Certamente que eu faria o mesmo, mas seria com certa saudade da generosidade do capitão.
Afinal, aquele homem deveria ser odiado ou admirado? Era ele uma vítima ou um carrasco? Para ser franco, eu gostaria de, antes de abandonar para sempre o navio, completar a volta ao mundo submarino, cujo início tinha sido maravilhoso. Eu gostava de ver o que nenhum homem ainda vira, mesmo tendo de pagar com a vida essa insaciável necessidade de aprender.
No dia 21 de janeiro de 1868, o imediato foi medir a altura do sol. Subi à plataforma, acendi um cigarro e segui a operação. Parecia-me evidente que aquele homem não compreendia o francês, porque várias vezes fiz reflexões em voz alta, que certamente teriam provocado nele qualquer sinal de atenção se as compreendesse.
Quando o “Nautilus” se preparou para retomar a sua marcha submarina, desci ao salão. Os alçapões foram fechados e rumamos diretamente para o oeste. Sulcávamos então as águas do Oceano Índico, vasta planície líquida com quinhentos e cinquenta milhões de hectares, cujas águas são tão transparentes que chegam a provocar vertigens em quem se debruça sobre a sua superfície. O “Nautilus” navegava a uma profundidade média de cem a duzentos metros. E foi assim durante vários dias.