Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 45: Capítulo 45 Pág. 251 / 258

O canadiano, esgotado de forças e paciência, também deixara de aparecer. Conselho não conseguia arrancar-lhe uma palavra e receava que, num acesso de delírio e dominado por uma terrível nostalgia, ele se suicidasse. Vigiava-o, portanto, com toda a devoção.

Compreende-se que, nessas condições, a situação era insustentável. Uma manhã, não sei de que dia, em que tinha adormecido às primeiras horas da madrugada, um sono penoso e doentio, ao acordar Ned Land estava debruçado sobre mim, dizendo-me em voz baixa :

- Vamos fugir!

Levantei-me.

- Quando? - perguntei.

- Logo à noite! Toda a vigilância parece ter desaparecido a bordo do “Nautilus”. Dir-se-ia que reina uma assombração a bordo. Está pronto?

- Sim. Onde estamos?

- A vista de terra que distingui esta manhã através das brumas, vinte milhas para leste.

- Que terras são?

- Ignoro-o, mas sejam quais forem, vamos fugir para lá.

- Sim, Ned. Fugiremos esta noite, ainda que o mar nos engula!

- O mar está mau e o vento forte, mas percorrer vinte milhas no bote do “Nautilus” não me assusta. Transportaremos alguns víveres e algumas garrafas de água sem que a tripulação o note.

- Segui-lo-ei.

- Se for descoberto, defendo-me e deixo que me matem.

- Morreremos juntos, amigo Ned.

Estávamos decididos a tudo. O canadiano saiu. Subi à plataforma, onde mal me mantinha de pé devido ao ímpeto das ondas. O céu estava ameaçador, mas uma vez que estávamos à vista de terra devíamos fugir.

Não podíamos perder um dia, uma hora. Voltei ao salão, ao mesmo tempo receando e desejando encontrar o Capitão Nemo. Que lhe diria? Poderia esconder-lhe o horror involuntário que me inspirava? Não!





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