- Eu vinha procurar-te, Ângela! - balbuciou Francisco - mas Deus não quis que eu imaginasse a possibilidade de te encontrar ao lado da minha santa irmã. Eu tinha sofrido muito e a recompensa devia ser esta...
Ângela abaixou o rosto, e pensou confusamente na estranheza deste transe.
Costa, voltando em si, compenetrou-se do pejo de Ângela, e disse:
- Eu beijei a tua face, Ângela, porque não há consideração que te obrigue a corar. Teu marido morreu.
- Morreu?! - conclamaram as duas senhoras, e em ambas o ar da fisionomia não revelava sentimento que pedisse luto imediato. Os olhos de Ângela não tinham sombras de funéreos; o sorriso de Joana iriava as cores azuis e escarlates dum vestido de gala. E, se neste conflito pairasse ideia triste, bastaria um destempero de Vitorina para destruir o efeito lúgubre da notícia. Quando Francisco proferiu teu marido morreu, a criada, que estava na cozinha, correu à saleta, exclamando:
- Ainda bem! Ainda bem!
E chorava de alegria, como nunca ninguém chorou por um defunto, exceto os herdeiros, parentes em quarto grau.
Cumpria relatar o caso infando. Costa, omitindo os fatos essenciais, contou que conversara com Hermenegildo nos primeiros dias da doença, sobre coisas particulares da sua vida; mas, como outros doentes fora do Rio o desviassem do enfermo, não sabia dizer da morte senão o principal: isto é, que morrera.
Instado a referir o diálogo que tivera, contou que o brasileiro apenas se queixava e dava como prova da deslealdade de Ângela a venda duns brilhantes, e a pertinácia em não declarar o destino dado a 1.