Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 22: XXII - Felicidade suprema Pág. 128 / 174

Depois, porém, que se afez ao ar da felicidade, e os seus olhos puderam suportar a luz inesperada, Francisco transfigurou-se, as lágrimas venceram a represa, os dezoito anos refloriram; e, de súbito, Ângela, que não entendia o frio silêncio dele, sentiu-se-lhe apertada nos braços, e beijada nas faces que ardiam dos beiços, das lágrimas e do pudor.

- Eu vinha procurar-te, Ângela! - balbuciou Francisco - mas Deus não quis que eu imaginasse a possibilidade de te encontrar ao lado da minha santa irmã. Eu tinha sofrido muito e a recompensa devia ser esta...

Ângela abaixou o rosto, e pensou confusamente na estranheza deste transe.

Costa, voltando em si, compenetrou-se do pejo de Ângela, e disse:

- Eu beijei a tua face, Ângela, porque não há consideração que te obrigue a corar. Teu marido morreu.

- Morreu?! - conclamaram as duas senhoras, e em ambas o ar da fisionomia não revelava sentimento que pedisse luto imediato. Os olhos de Ângela não tinham sombras de funéreos; o sorriso de Joana iriava as cores azuis e escarlates dum vestido de gala. E, se neste conflito pairasse ideia triste, bastaria um destempero de Vitorina para destruir o efeito lúgubre da notícia. Quando Francisco proferiu teu marido morreu, a criada, que estava na cozinha, correu à saleta, exclamando:

- Ainda bem! Ainda bem!

E chorava de alegria, como nunca ninguém chorou por um defunto, exceto os herdeiros, parentes em quarto grau.

Cumpria relatar o caso infando. Costa, omitindo os fatos essenciais, contou que conversara com Hermenegildo nos primeiros dias da doença, sobre coisas particulares da sua vida; mas, como outros doentes fora do Rio o desviassem do enfermo, não sabia dizer da morte senão o principal: isto é, que morrera.

Instado a referir o diálogo que tivera, contou que o brasileiro apenas se queixava e dava como prova da deslealdade de Ângela a venda duns brilhantes, e a pertinácia em não declarar o destino dado a 1.





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