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Capítulo 22: XXII - Felicidade suprema

Página 127
Ângela, em dez meses, ganhou quarenta e duas moedas.

- Está vossa excelência aqui há dez meses? - perguntou Costa à hóspeda.

- Penso que sim - confirmou Ângela.

Francisco, confrontando as datas, concluiu que tendo chegado ao Rio Hermenegildo oito meses antes, Ângela se acolhera a sua irmã logo que saiu de casa. Exultou, luzia-lhe nos olhos o muito sol que se lhe abrira na alma.

E a ponto vem dizer-se que o confidente último do brasileiro, desde que ao longe premeditou a redenção de Ângela, conjecturara que teria de procurá-la na ladeira onde vulgarmente pobreza e formosura impelem a mulher, nascida sem auréola santificante: - auréola de que já hoje ninguém vê resplendor, nem os romancistas propriamente se exercitam nesse género de inventiva, temerosos do descrédito de fantásticos e inverosímeis.

Do muito martelar nesta hipótese péssima, bem que trivialmente realizada no máximo número de lances análogos, causou-se que o lapso da desamparada senhora para os braços doutro homem, amado ou aborrecido, era a esperança infernal que preocupava o autor dos SONHOS, aquele olímpico vidente agora demudado em pessimista, com as asas da sua poesia mortas, e o espírito prostrado nas baixezas vulgares deste mundo. Figurou-se-lhe, por desventura, que uma mulher, que aspirara o ambiente de Hermenegildo Fialho, devia de ter empeçonhado o coração, apagada a flama celestial do espírito, e desbotadas as cores prismáticas por onde via o bom, o belo o santo da criação, antes de tocar a hediondez de tal marido. Duas angústias, pois, a um tempo o navalhavam: se a encontraria amante doutrem, e para si perdida; se vítima da necessidade na vulgar degradação de escrava, e perdida também para ele.

O encontrá-la, portanto, em companhia de sua irmã causara aquele entorpecimento de espírito e palavra que parecia irmanar-se com a indiferença, e até com a surpresa desagradável.

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pág. 127 (Capítulo 22)

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 127

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174