Neste tempo, aconteceu chegar ao convento a notícia de ter aparecido em Barrosas um brasileiro muito rico, procurando novas de uma irmã que deixara, quando, em criança, fora para a América. Ora a irmã do brasileiro era Rita de Barrosas, criada da abadessa. Grande alvoroço, e alegrias, e invejas no mosteiro!
Rita correu ao quarto de Ângela a mostrar a carta do vigário da sua freguesia, avisando-a de que o irmão iria brevemente buscá-la de liteira.
Dias depois, chegou a Viana Hermenegildo Fialho; e, dado aviso ao convento, foi procurar a irmã. Saíram a cumprimentá-lo as religiosas mais autorizadas, e folgaram de o ver comer pastéis ensopados em vinho do Porto com familiar lhaneza e proporções homéricas de estômago.
Ao outro dia, Rita saiu do mosteiro, depois de ter chorado abraçada em Ângela, única pessoa, dizia ela, de quem levava saudades, e de quem nunca se esqueceria.
Com este sucesso coincidiu a morte de D. Beatriz de Noronha. Contaram as criadas que o fantasma de José Maria, auxiliado por incómodos de bexiga, a matara, penetrando-a dum remorso dilacerante. E posto que a crítica e a medicina presumam que D. Beatriz haja sucumbido a uma cistite, ou qualquer outra moléstia mais ou menos grega, é certo que a velha, para lograr o espectro do merceeiro, deixou em testamento 960$000 réis para missas por sua alma de esmola de 240. Quatro mil missas! O diabo que se atreva a levar alma com tal recomendação, se é capaz!
Falecida Beatriz, solicitou Ângela novamente a sua saída. A prelada consultou Soror Cassilda, a qual respondeu que não tinha que ver com a saída, assim como não tivera com a entrada. Sempre discreta! Os frades desta senhora deviam ter sido sujeitos áticos bastantemente nos seus raciocínios.