Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 14: XIV - Via dolorosa Pág. 72 / 174

O seu quarto de dormir, quando, anos antes, visitava o pai, era aquele mesmo. Enquanto Vitorina moirejava alegremente na cozinha, a senhora pegou num castiçal e andou percorrendo a casa. Reconheceu a antecâmara de seu pai, entrou e sentou-se na cadeira de espaldar anteposta à banca de escrever. Era esta banca rodeada de escaninhos onde se recadavam cartas. Ângela reconheceu a letra da defunta Beatriz num sobrescrito de carta emaçada com outras. Leu a primeira, em que sua tia relatava os pormenores da fuga, caluniando a sobrinha a ponto de referir que os seus criados a tinham arrancado dos braços do filho do sacristão. Que seria daquela alma, a não se guindar do purgatório alçapremada por quatro mil missas a 240 réis!

Leu a Segunda, em que D. Beatriz participava estar disposta a obrigar Ângela, pela necessidade, a vestir a touca de criada, para que todos soubessem que os parentes, se o eram, (sublinhava ela), a tinham abandonado como infame.

- É impossível que meu pai me receba... - disse entre si amargurada.

Ia retirar-se, quando reparou num cofre de prata que assentava sobre um bufete. Reconheceu-o, porque tinha sido de D. Beatriz. Abriu-o. estavam dentro as jóias que seu pai lhe tinha dado, e sobre elas um cartão com o nome impresso do general, e por baixo, escrito do pulso dele, o seguinte: Estas peças em número de dez pertencem a Ângela, filha de D. Maria d’Antas, já defunta. Se eu morrer em Paris, entreguem-lhas os meus testamenteiros. Procurem-na no mosteiro de S. Bento em Viana, ou onde ela parar. Não tem mais que herdar da casa onde viveu sua mãe.

Fechou Ângela o cofre e voltou profundamente descoroçoada à sala.

Entravam os dois criados com a bandeja do chá. A filha de Maria d’Antas tomou um chávena, e disse:

- Aceito a esmola, Sr.





Os capítulos deste livro