O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 30: CAPÍTULO III Pág. 168 / 245

Se nunca precisar de mim, continuarei como até hoje sendo na sua existência um homem inteiramente desconhecido, o qual de ora avante considerará as suas relações com V. exa. exatamente no estado em que estavam antes de a ter visto pela primeira vez.

Ela respondeu-me enternecidamente:

- Bem haja por essas palavras de bondade, que são talvez as últimas benévolas que eu tenho de ouvir neste mundo. Quando souber - porque tem de se saber isto, meu Deus! - o que, desde esta horrorosa noite eu fico sendo perante a justiça e perante a sociedade, diga à sua mãe, à sua irmã, à sua amante, se tem amante, que me não odeiem elas, ao menos! que eu sou menos criminosa do que lhes hei de parecer, que lhe confessei isto, ao despedir-me de si, entre a vida e a morte. Adeus!… Não lhe dou a mão… Sou indigna da amizade das pessoas de bem. O mais que eu posso pedir, eu, é piedade… Tenha piedade de mim… Adeus!

A carruagem tinha rodado a distância de alguns passos quando parou outra vez a um gesto da condessa; ela mesma abriu a portinhola, desceu e dirigiu-se a mim. Fui ao seu encontro.

- Quero falar-lhe ainda, disse ela.

E depois de uma pequena pausa, em que parecia coordenar ideias dispersas, acrescentou:

- Foi talvez providencial o nosso encontro aqui, a esta hora, nesta rua… É talvez a única pessoa que Deus quer permitir que me proteja, que seja por mim. Tenho um parente a quem vou escrever imediatamente entregando-lhe este segredo. Receio que ele se não ache em Lisboa. Sendo assim, não sei de quem me confie. Se tiver no seu coração tanta misericórdia e tanta bondade que queira valer-me, procure-me na minha casa, amanhã, às 11 horas.

E dando-me a sua morada em Lisboa, entrou outra vez na carruagem que partiu.

Singular comoção





Os capítulos deste livro