Calafrio - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 106 / 164

Estava de tal forma convencida de que o regresso do grupo ficaria marcado por uma grande dose de excitação que me senti deveras perturbada ao verificar que ninguém se dispunha a dizer fosse o que fosse relativamente ao facto de os ter abandonado. Ao invés de me denunciarem de forma divertida e de me mimarem um pouco, optaram pelo silêncio, e, ao estudar o rosto estranho de Mrs. Grose, compreendi que ela também nada diria. Acabei por convencer-me de que, de um modo ou de outro, a haviam levado a pensar que o melhor seria ficar calada. De qualquer modo, eu mesma me encarregaria de quebrar o silêncio assim que me fosse dada a oportunidade de falar com ela a sós, o que aconteceu antes da hora do chá. Consegui roubar-lhe cinco minutos quando a mulher ainda se encontrava na sala da despenseira, onde a encontrei envolta no odor do pão acabado de fazer, sentada junto à lareira, com uma expressão de serenidade dolorosa estampada na face. E assim que ainda hoje a vejo, é assim que melhor a recordo: a cadeira colocada frente ao lume, a sala iluminada pela luz do sol poente, as gavetas fechadas e os armários trancados.

— Oh, sim, é verdade que me pediram para não dizer nada! E, para lhes fazer a vontade, acabei por prometer que assim seria. Mas, diga-me, que é que se passou?

— A minha ida à igreja foi apenas o pretexto para dar um passeio — retorqui. — Tive de voltar para casa porque estava à espera de uma amiga.

A mulher fez um ar surpreendido.

— Uma amiga? A menina?

— Oh, sim! Por acaso até tenho dois bons amigos! — E soltei uma gargalhada. — E as crianças explicaram-lhe a razão de semelhante pedido?





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