Um Caso Tenebroso - Cap. 12: XII - UM DUPLO E MESMO AMOR Pág. 136 / 249

Andava à moda, e mais do que uma vez correu a Paris para parecer mais bela graças a qualquer trapo ou a qualquer novidade. Enfim, para dar a seus primos as mais pequeninas alegrias do conforto doméstico, de que eles, por tanto tempo, haviam sido privados, tornou o seu castelo, não obstante os altos protestos do tutor, a residência mais completamente confortável que então havia em toda a Champagne.

Roberto de Hauteserre não compreendia nada daquele drama surdo. Não se dava conta do amor de seu irmão por Laurence. Quanto à jovem, gostava de zombar da sua coquetterie, pois confundia esse detestável defeito com o desejo de agradar; mas era assim que ele se enganava sobre tudo que dizia respeito ao sentimento, ao gosto e à alta instrução, Por isso logo que o homem da Idade Média entrava em cena, Laurence fazia dele: sem dar por isso, o pateta do drama; divertia os seus primos discutindo com Roberto, pois, a pouco e pouco, o ia introduzindo naqueles pântanos onde a estupidez e a ignorância se atolam. E era inexcedível nestas mistificações espirituosas, as quais, para serem perfeitas, devem deixar a vítima feliz consigo própria.

No entanto, por mais grosseira que fosse a sua natureza, Roberto, durante esta bela quadra - a única feliz que estes três seres encantadores viriam a conhecer na vida -, nunca interveio entre os Simeuse e Laurence com uma só palavra viril, que talvez pudesse decidir da questão. Impressionou-o muito a sinceridade dos dois irmãos. Roberto, sem dúvida que adivinhou quanto podia afligir uma mulher conceder a um provas de carinho que o outro não recebesse ou que o pudesse magoar; quanto era feliz um dos irmãos com o bem que acontecia ao outro, e quanto poderia vir a sofrer no fundo do seu coração.





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