Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 30: Capítulo 30 Pág. 147 / 258

Durante a noite de 16 para 17 de fevereiro, tínhamos entrado na segunda bacia do Mediterrâneo, onde a maior profundidade é de três mil metros. O “Nautilus”, sob o impulso de sua hélice, deslizando em planos inclinados, descia às camadas mais profundas do mar.

Ali, à falta de maravilhas naturais, a massa das águas oferecia aos meus olhos cenas comoventes e terríveis. Atravessávamos então a zona do Mediterrâneo mais fértil em sinistros. Da costa argelina ao litoral da Provença, quantos navios naufragados, quantas embarcações desaparecidas! O Mediterrâneo não passa de um lago, se comparado com as vastas extensões líquidas do Pacífico. Mas é um lago caprichoso, de ondas inconstantes, hoje propício e acariciador para a frágil tartana de formas esguias e coberta corrida desfraldando ao vento sua vela latina, amanhã enfurecido, açoitado pelos ventos, é capaz de destruir os navios mais resistentes com as suas ondas curtas, que os flagelam sem descanso.

Assim, nesse rápido passeio através das águas sombrias daquelas profundidades, quantos destroços eu vi jazendo no fundo, uns já envoltos por corais, outros apenas revestidos por uma camada de ferrugem: âncoras, canhões, balas, guarnições de ferro, pás de hélice, pedaços de máquinas, depois cascos flutuando em várias posições.

Dos navios naufragados, uns tinham perecido por colisão, outros por terem batido em escolhos graníticos. Vi alguns que tinham ido a pique com a mastreação inteira e pareciam estar parados num ancoradouro à espera do momento da partida.

Quando o “Nautilus” passava entre eles e os envolvia com os seus raios elétricos, parecia que aqueles navios o iam saudar com as suas bandeiras e comunicar-lhe os seus números de ordem!





Os capítulos deste livro