Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 31: Capítulo 31 Pág. 153 / 258

Ele contava com a força das circunstâncias e não com a nossa palavra para nos manter junto dele. A sua confessada intenção de nos manter eternamente á bordo do seu navio justificava todas as nossas tentativas de fuga. Eu não o via desde a noite em que o cofre com o ouro fora mandado para alguma parte da Europa, ou seria da África ou até mesmo do Oriente Médio? Será que voltaria a vê-lo antes de minha partida? Desejava vê-lo e, ao mesmo tempo, receava a sua presença naquelas circunstâncias. Pus-me à escuta para ver se ouvia passos no quarto dele, contíguo ao meu. Nem um ruído. O quarto devia estar deserto. Então eu pensei se o capitão estaria realmente a bordo.

Desde aquela noite em que o bote deixara o “Nautilus” para aquela misteriosa entrega do ouro, as minhas ideias em relação ao capitão haviam-se modificado um pouco. Passei a supor que apesar do que dizia, o Capitão Nemo continuava a manter algumas relações com a terra. Ele nunca deixaria o “Nautilus”? Por vezes passava-se uma semana inteira sem que eu o visse. Que estaria fazendo ele durante esses dias? E quando eu poderia julgá-lo praticando algum ato de misantropia, não estaria antes envolvido em alguma ação secreta cuja natureza me escapava?

Todas essas considerações assaltavam a minha mente. O campo de conjeturas era infinito na situação em que me encontrava. Sentia um mal-estar insuportável. Aquele dia de espera me parecia infindável. As horas se passavam demasiado lentamente para o meu estado de impaciência.

Como sempre o jantar me foi servido no quarto. Quase não comi, enfastiado de preocupações. Saí da mesa às sete horas. Ainda faltavam cento e vinte minutos para o momento em que me deveria juntar a Ned Land e Conselho.





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