Eu tinha medo de me deixar trair pela emoção que me dominava. Passei um dia penoso, entre o desejo de alcançar a liberdade e a mágoa de abandonar aquele maravilhoso “Nautilus”, deixando inacabados os meus estudos submarinos. Deixar assim aquele oceano, “o meu Atlântico”, como gostava de chamá-lo, sem ter observado suas camadas mais profundas, sem lhe ter desvendado os mistérios, como tinha feito aos mares das índias e no Pacífico! O meu romance caía-me das mãos no primeiro volume, o meu sonho ia ser interrompido no melhor momento.
Passei assim algumas horas amargas, ora me vendo em terra, em segurança com os meus companheiros, ora desejando que alguma circunstância imprevista impedisse a realização dos projetos de Ned Land.
Fui duas vezes ao salão para consultar a bússola para verificar a direção do “Nautilus” e assegurar-me de que estávamos realmente nos aproximando da costa. O submarino continuava em águas portuguesas, rumando para o norte, na direção desejada pelo canadiano. Portanto, tínhamos de aproveitar a ocasião e tentarmos a fuga. A minha bagagem constava apenas dos meus apontamentos. Nada de coisas pesadas.
Quanto ao Capitão Nemo, perguntava-me sobre o que pensaria ele da nossa evasão. Que tipo de inquietações, que problemas poderíamos causar a ele e o que faria o enérgico capitão se a nossa tentativa fracassasse? Eu não tinha nenhuma razão para me queixar dele. Ao contrário disso, a sua hospitalidade não me deixava margem para censuras. Por outro lado, não tinha também nenhum motivo para me considerar ingrato com ele: nenhum juramento e nem mesmo uma palavra menos formal me prendia ao capitão quanto ao que íamos fazer.