Ao avançar, eu ouvia uma espécie de crepitação por cima de minha cabeça. Por vezes o ruído aumentava e produzia como que um fulgor contínuo. Era a chuva que caía violentamente na superfície das águas. Instintivamente, pensei que me ia molhar. Não pude deixar de sorrir com tal ideia. Para dizer a verdade, dentro do pesado escafandro não se sente o elemento líquido e pensa-se estar no meio de uma atmosfera um pouco mais densa do que a atmosfera terrestre.
Após meia hora de marcha o solo tornou-se pedregoso, mas nosso caminho tornava-se cada vez mais iluminado. A luz esbranquiçada brilhava no cimo de uma montanha com cerca de oitocentos pés de altura. Mas o que eu via não passava de uma simples reverberação desenvolvida pelo cristal das camadas de água. A origem daquela inexplicável claridade encontrava-se no lado oposto da montanha.
O Capitão Nemo avançava sem hesitação no meio dos pedregulhos que sulcavam o fundo do Atlântico. Não havia dúvida de que conhecia o caminho e de que já o havia percorrido algumas vezes. Eu o seguia confiantemente. Aparecia-me como um dos gênios do mar. Andando atrás dele, eu admirava a sua elevada estatura que se destacava no fundo luminoso. Era uma hora da manhã. Tínhamos chegado às primeiras vertentes da montanha. Para transpô-la era preciso nos aventurarmos pelos difíceis atalhos de uma enorme floresta.
O capitão, familiarizado com aqueles caminhos, andava sem qualquer problema. Tínhamos chegado a uma primeira plataforma da montanha, onde me esperavam algumas surpresas.