Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 45: Capítulo 45 Pág. 253 / 258

Pensei que ele ia aparecer e perguntar-me por que íamos fugir! Sentia terríveis sobressaltos e a imaginação agravava-os. Esta sensação tornou-se tão aguda que eu me interrogava se não seria preferível entrar no quarto do capitão, vê-lo cara a cara, e enfrentá-lo olhos nos olhos.

Era uma ideia de louco. Felizmente, contive-me e estendi-me na cama para acalmar a agitação que me devorava. Os nervos serenaram um pouco, mas o cérebro, superexcitado, passou em revista toda a minha existência, a bordo do “Nautilus”, todos os incidentes felizes e infelizes, as caças submarinas, o Estreito de Torres, os selvagens da Papuásia, o encalhe, o cemitério de coral, a passagem de Suez, a ilha Santoria, o mergulhador cretense, a Baía de Vigo, a Atlântida, o banco de gelo, o Pólo Sul, a clausura nos glaciares, o combate com os polvos, a tempestade na Gulf Stream, o “Vingador” e, finalmente, a horrível cena do navio afundado com toda a tripulação! Todos esses acontecimentos me passaram diante dos olhos, como cenários de um teatro. Então, o Capitão Nemo crescia desmesuradamente neste meio estranho. A sua figura acentuava-se e assumia proporções sobrenaturais. Já não era um semelhante, mas um homem das águas, um gênio dos mares.

Eram então nove horas e meia. Eu segurava a cabeça com as duas mãos para impedir que ela rebentasse. Fechei os olhos. Não queria pensar mais. Ainda meia hora de espera! Meia hora de um pesadelo que quase me tornava louco!

Naquele momento, ouvi os vagos acordes do órgão. Uma melodia triste e um canto indefinido, verdadeiros queixumes de uma alma que deseja quebrar os seus elos terrestres. Escutava com toda a atenção, mal respirando, mergulhado como o Capitão Nemo naqueles êxtases musicais que o transportavam para além dos limites deste mundo.





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