- É um navio! - exclamei.
- Sim - confirmou o canadiano. - Um navio que naufragou.
Tínhamos diante de nós um navio, cujos cabos cortados pendiam ainda das respetivas cadeias. O casco parecia estar em bom estado e o naufrágio devia ter ocorrido poucas horas antes. Três pedaços de mastros, cortados dois pés acima do convés, indicavam que o navio se vira forçado a sacrificar a mastreação. Mas, adernando de flanco, tinha-se enchido de água e afundara, inclinado para bombordo. Triste espetáculo, ver aquela carcaça perdida nas águas. Ainda mais triste era ver os cadáveres no convés, amarrados por cordas. Vi quatro homens, um dos quais se mantinha de pé, preso ao leme, e uma mulher meio saída pela clarabóia do tombadilho, segurando uma criança nos braços. Era uma mulher jovem, pois pude ver-lhe claramente as feições iluminadas pelo farol do “Nautilus”. Num esforço supremo, ela tinha erguido o filho
acima da cabeça, pobre criatura cujos bracinhos se agarravam ao pescoço da mãe. A postura dos quatro marinheiros era assustadora, contorcendo-se em movimentos convulsivos, fazendo um derradeiro esforço para se libertarem das cordas que os prendiam ao navio.