Uma Família Inglesa - Cap. 26: XXVI - Ineficaz mediação de Jenny Pág. 300 / 432

Para que me perguntas isso? Ninguém melhor do que eu te conhece o coração e te avalia os sentimentos; bem o sabes. Ninguém te faz mais justiça – respondeu Jenny, sensibilizada com a manifesta comoção que se conhecia na voz de Carlos, quando lhe falara assim.

– Pois de tudo isto me acusaram há pouco… E foi meu pai!

– E julgas que o pensava, ainda quando to dizia… se o disse?

– Se o não pensasse, calar-se-ia ao ver o mal que me causavam aquelas acusações e a maneira por que as repeli… mas insistiu.

– Perdoa-lhe tu também isso. Vamos; conquanto eu não faça a injustiça de te supor capaz de acções tão carregadamente más como essas que dizias, acredito também que não seja de todo um justo este incorrigível irmão que tenho, e creio que precisará um pouco da indulgência, que recusa ter para com os outros. Tudo isso passou já. Olha, meu Charles, tu deves fazer como os lagos e como os prados, que não conservam vestígios das nuvens que os assombram, ao passarem por diante do Sol. Se visses como o pai ficou, assim que te retiraste da mesa! Coitado! Se foi injusto contigo, está pagando bem cara a injustiça! Acredita que o sente mais do que tu. Eu estava a reconhecer nele o desejo de te pedir desculpa por alguma coisa de que se arrependia já. Mas, que queres? Estas passagens não se podem fazer assim depressa, ainda que haja a melhor vontade. E tu não lhe deste tempo. Serias um anjo, Charles, se fosses bom e generoso a ponto de… – E olha que era uma vingança também. – Se fosses bom e generoso a ponto de voltares para a sala e vires fazer companhia ao pai esta tarde…

– Tu, que me conheces, Jenny, como podes lembrar-te dessa proposta? Não sabes como eu sou? Percebeste alguma vez em mim a aptidão para dissimular, de que precisaria, se quisesse fazer o que me indicas? Os meus ressentimentos são curtos, é verdade; mas, enquanto duram, não sei disfarçá-los.





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