XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino Voltando ao princípio da manhã deste dia, vejamos o que se passara em casa de Manuel Quintino, que assim é indispensável à inteligência dos ulteriores sucessos que temos de narrar.
Ao acordar naquela manhã, Cecília não tinha ainda resolvido aceitar o convite de Jenny. Prolongara-se até então a luta de resoluções, entre as quais vacilava.
Era dia santo, como já dissemos. Manuel Quintino não tivera portanto de sair cedo para o escritório. Depois de proceder a uma toilette mais escrupulosa do que a dos dias de trabalho, envolveu-se no clássico capote de cabeção, traste rico em memórias da vida passada, e desceu ao quintal, a fazer horas para a missa. Aí, passeando por baixo das ramadas, que de todos os lados orlavam, e que já naquela época do ano se revestiam de folhas viçosas, aproveitava Manuel Quintino os raios de um desanuviado sol de Primavera, cedendo pouca atenção às flores dos alegretes laterais, e ao gorjeio dos pássaros, que por sobre a cabeça lhe andavam festejando a manhã.
O pensamento de Manuel Quintino vagueava longe dali.
Efectivamente todo o sombrio cortejo de ideias tristes, que a melancolia de Cecília, havia pouco tempo, lhe suscitara, voltava a assenhorear-se de novo dele, e com a passada persistência.
– Também esta vida que ela passa é de tão poucas distracções! A falar a verdade! Aos dezoito anos! Sim… É preciso espairecer. Em vez de estar aqui a perder tempo, o que eu devo é ir por aí fora com ela.
Pensando assim, foi caminhando para casa.
– Cecília – disse, ao encontrar a filha –, a manhã está tão bonita! Vamos nós por aí fora?
– Aonde?
– Por aí. Damos uma volta, antes da missa. Nós que fazemos aqui metidos?
Cecília, julgando satisfazer os desejos do pai, condescendeu.