X – Jenny Jenny entrou no seu quarto, logo depois da partida de Carlos para o escritório. Era um delicioso quarto, cor de violeta, onde se divisava o bom gosto e a elegância desafectada, maravilhosamente unidos a um não sei quê de austeridade inglesa, não em tal grau que destruísse a feição leve e graciosa que compete aos aposentos de uma mulher de vinte anos, mas bastante para os despojar de certo excesso de ornamentos, que em extremo agradam a alguns espíritos, mais que femininos, pueris.
Não lhe era cabida a descrição que um romancista francês nos faz do quarto de uma das suas heroínas, pintando-nos tão abundantes as tapeçarias e alcatifas que, em todo ele, se não mediria uma polegada de madeira a descoberto, e tão flácidas e macias, que nessa gaiola perfumada poderia qualquer avezita voar, de canto a canto, sem receio de magoar as asas.
Este requinte de mole elegância parisiense mal se quadrava com a índole séria e com a actividade natural de Jenny Whitestone. Há em toda a inglesa um pouco de puritana; no carácter das mais ternas conserva-se sempre alguma coisa que, debaixo do ponto de vista moral, corresponde àquele esbelto e inflexível de forma que lhes é próprio, tão diverso do requebrar indolente e quase mórbido das mulheres meridionais.
Não se encontrava no quarto de Jenny um único objecto dessa mobília, quase de boneca, dos boudoirs da moda, onde predominam o papier maché, o pau-rosa, a madeira branca e dourada; e os primores de uma arte que, à força de querer apurar em delicadeza os seus produtos, os faz às vezes acanhados e ridículos.
A elegância, ali, não abdicava certa dignidade, à qual hoje é raro combinar-se. Nenhum dos costumados artifícios da indústria moderna; tudo era o que parecia ser; o mármore, mármore; o bronze, bronze; o damasco, damasco; as rendas, rendas verdadeiras.