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Capítulo 3: III - Na Águia de Ouro

Página 21
III - Na Águia de Ouro

Era uma das últimas noites do Carnaval de 1855.

Havia menos estrelas no céu, do que máscaras nas ruas. Fevereiro, esse mês inconstante como uma mulher nervosa, estava nos seus momentos de mau humor; mas, embora; o folgazão Entrudo ria-se de tais severidades e dançava ao som do vento e da chuva, e sob o dossel de nuvens negras que se levantavam do sul. Graças à cheia do Douro, a cidade baixa podia bem prestar-se naquela época a uma paródia do Carnaval veneziano.

À porta dos teatros apinhava-se a multidão; os altos brados dos vendedores de senhas e os agudos falsetes dos mascarados atordoavam os ouvidos. Dos cabides dos guarda-roupas, provisoriamente armados nas lojas circunvizinhas aos principais salões de baile, pendiam vestuários correspondentes a todas as épocas e a todas as nações, e alguns aos quais não era possível assinar época, nação, classe ou condição social conhecida.

Numerosos grupos de espectadores paravam diante das exposições de máscaras à venda e tornavam o trânsito naquelas ruas quase impraticável. Era uma fascinação análoga à que produz um conto de Hoffmann em imaginações excitáveis a exercida neles por tantas máscaras enfileiradas, cuja diversidade cómica de expressão e de gesto lembrava um enxame de cabeças mefistofélicas, surgindo à luz para se rirem das loucuras da humanidade.

Estes absortos contempladores a cada passo vinham a si, desagradavelmente acordados pelas pragas enérgicas dos condutores de carruagens, prestes a atropelá-los, ou pela interjeição pouco harmoniosa dos cadeirinhas obrigados por causa deles a irregularidades no andamento da sua grave e benéfica tarefa. Só então, e ainda a custo, se dispersavam para, alguns passos mais adiante, se aglomerarem de novo.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 21

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432