I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor ENTRE os súbditos da rainha Vitória, residentes no Porto, ao principiar a segunda metade do século dezanove, nenhum havia mais benquisto e mais obsequiado, e poucos se apontavam como mais fleumáticos e genuinamente ingleses, do que Mr. Richard Whitestone.
Por tal nome era em toda a cidade conhecido um abastado negociante de fino tacto comercial e génio empreendedor, cujo crédito nas primeiras praças da Europa e da América, e com especialidade nos vastos empórios da Grã-Bretanha, se firmava em bases de uma solidez superabundantemente provada.
Nos livros de registo do Bank of England, bem como nos de alguns Joint-Stock banks e dos banqueiros particulares da City ou de West-End, podia-se procurar com êxito documentos justificativos deste crédito florescente.
Não era Mr. Richard homem para seguir somente caminhos batidos, nem para empalidecer ao abalançar-se em veredas não arroteadas, onde se achava a sós com os seus esforços e tenacidade.
Por vezes arriscara capitais a inaugurar companhias, a plantar novos ramos de comércio, a auxiliar indústrias nascentes, aventurando assim proveitosos exemplos, para serem seguidos depois, já com melhores garantias de lucro, por seus colegas, caracteres em geral cautelosos e positivos e sempre desconfiados a respeito de inovações.
Apesar disso, as crises, essas derruidoras tempestades tão frequentes na vida do comércio, tinham passado por cima da casa Whitestone, respeitando-a. Através das nuvens negras, que tantas vezes assombram o mundo monetário, vira-se sempre brilhar a firma do honrado Mr. Richard, com o esplendor tradicional; enquanto que não sorriam fados tão propícios às de muitos meticulosos e precatados, não obstante egoístas abstenções.