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- Sua senhora, se quiser.
- Mas esta mulher sabe-o.
- Vossemecê sabe-o, mulher? - perguntou a autoridade sorrindo.
- O quê, meu senhor?
- Sabe o que aquele senhor deseja saber?
- Sabes a quem tua ama dava o dinheiro dos brilhantes? - perguntou o amo com estrondosos berros.
- Que brilhantes?
- Os brilhantes que ela te mandava vender.
- Não me mandou vender nada.
- Então roubaste-los tu?
- Sim, senhor.
Hermenegildo sobrepôs os braços um no outro, transversalmente apoiados no estômago, e começou a dar com eles de modo que tiravam um som de timpanites das cavernas subjacentes.
- Já viram pouca vergonha deste feitio? - gritava ele. - Veja vossa senhora se isto não é para endoudecer um homem!
E, levantando-se com prodigiosa rapidez, exclamou:
- Vou consultar, os meus amigos sobre o que devo fazer; vossa senhoria faça a sua obrigação. O negócio é muito sério. Hei de sair com honra desta tramóia. Sou um homem de bem. Quem quiser saber quem é Hermenegildo Fialho Barrosas, pergunte-o aí na praça do comércio do Porto.
- Sei que é honrado capitalista, Sr. Fialho! Quem lhe nega as suas excelentes qualidades?
- Vossa senhoria parece que está disposto a favor dos criminosos! - retorquiu o ricaço, esbofeteando uma mosca na testa.
- Quem são aqui os criminosos?
- Não sei! Não entendo esta balbúrdia!
- Sua senhora diz que mandara vender os brilhantes. Quer que ela seja enviada ao juízo criminal com o labéu de ladra? - volveu o administrador agastado.
- Não quero isso! Quero saber quem recebeu o dinheiro.
- Não posso esclarecê-lo.
- O dinheiro gastei-o eu - repetiu Vitorina.
- É o que vamos ver.
Disse, e tangeu de novo a campainha o funcionário, mandando o oficial que intimasse a Sr.ª D. Ângela a comparecer na administração.