- Levemos isto mais moderadamente, Sr. Barrosas, - admoestou o administrador. - ora diga-me, mulher, foi vossemecê mesma que vendeu os brilhantes?
Demorou-se Vitorina em responder:
- Fui, sim, meu senhor.
- A quem?
Repetiu-se a mesma tardança na resposta.
- A quem os vendeu? Aos ourives Mourões? - repetiu o funcionário.
- Sim, senhor.
- Todos?
- Sim, senhor.
- Está vossemecê mentindo. Os Mourões compraram três pedras a uma mulher, que provavelmente era vossemecê, e duas a um vizinho. Como explica vossemecê esta verdade com a sua mentira?
A mulher abafava com soluços.
- Seja verdadeira; vossemecê não roubou os brilhantes; vendeu-os por ordem de sua ama...
- Não, senhor - acudiu a criada com veemência.
- Não me desminta, que logo vai ser sua ama interrogada na sua presença, e ela mesma já disse ao Sr. Fialho que vossemecê não furtou a pulseira.
- O que eu quero - intermeteu-se o brasileiro - é saber a quem tua ama dava o dinheiro.
- Isso é que eu não quero saber enquanto sua senhora se não queixar de que foi lograda fraudulentamente - emendou o administrador do bairro. - Já disse a vossa senhoria que esta repartição judiciária não é confessionário, nem entende com a moralidade dos atos domésticos, entre casados, enquanto eles se não queixam competentemente. Da minha competência é saber como hei de enviar esta mulher ao juízo criminal. Ela teima que roubou os brilhantes; a esposa de vossa senhoria declara que os mandou vender. O meu juízo está feito; mas...
- Então qual é o juízo do Sr. Administrador? - interrompeu o queixoso.
- É o juízo do Sr. Fialho.
- O meu?!
- Sim: o senhor diz que foi sua esposa quem mandou esta ou outra mulher vender as pedras; eu digo o mesmo.
- Mas quem me há de a mim dizer o caminho que levou o dinheiro? Um conto seiscentos e.