Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 19: XIX - Amor-próprio

Página 109

Ângela sentiu-se transida de compaixão de seu pai, que ela tinha conhecido onze anos antes ainda vigoroso, posto que encanecido. Escreveu-lhe. De sua vida nada lhe contava. Oferecia-lhe o seu braço para amparo, os seus olhos para ver por eles, o seu coração de filha para urna das lágrimas espremidas pela saudade e memórias dos seus afetos de moço feliz, com todas as alegrias do mundo a cortejá-lo.

O general ouviu ler a carta ao seu mordomo, e disse:

- Cuidei que era morta... Morta está decerto...

E não respondeu.

Aquela carta redobrou-lhe o tormento da memória ao ancião. Maria d’Antas relampagueava-lhe amiúde diante dos olhos de alma; e ele circunvagava os do rosto para afastar a imagem formidável com a diversão de outras; mas... não via! Apenas tinha olhos para chorar.

- Por que não chama vossa excelência para si sua filha? - dizia-lhe um dia o mordomo, com a liberdade de quarenta anos de servo.

- E quem te disse que ela é minha filha?

O mordomo calava-se.

- Quem te disse que ela era minha filha? - insistia o general esbugalhando os olhos cinzentos e nublosos.

- Pensei, senhor...

- Parece-se comigo?

- Não, senhor, é o rosto de sua mãe.

- Muito parecido? Já me não recordo de Ângela...

- Tal qual. Quando aqui esteve, há sete anos, era como a fidalga d’Antas quando... morreu.

- Vai-te... deixa-me... - rugiu o cego, gesticulando vertiginosamente.

<< Página Anterior

pág. 109 (Capítulo 19)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 109

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174