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Capítulo 19: XIX - Amor-próprio

Página 108
a lauda dobrada, e leu:) Que pena terás de ti própria, Ângela, quando não sentires o calor da tua alma nas formas tão belas, tão vestidas de celestial luz, conspurcadas no sevo da brutal cupidez do argentário!... Sabe, minha amiga, o sentido destas palavras?

- Sei, minha senhora. É porque o mordomo de seu pai tinha visto, não sei onde, seu marido, e dissera ao outro que nunca vira coisa mais feia.

- E seu irmão desprezou-me por isso?

- Leia vossa excelência a continuação do livro e verá que ele não a desprezou: amou-a sempre com a mesma elevação espiritual do tempo em que ele dizia, e eu mal o percebia: Como homem de alma adoro Ângela, ilumino-a à luz que radia das minhas crenças em Deus. Quantas vezes eu lhe dizia: - Por que não amas outra? - E ele respondia-me: “Não se aviltam certas almas quando mesmo queiram envilecer-se...”

- Isto está escrito - apontou Ângela, e continuou lendo: Entre ti e Deus poderá existir outro elo, minha querida amiga; mas eu não o conheço. Se um dia o conhecer, então esquecer-te-ei. O homem, que te chama sua, é apenas a lama que se apegou ao brilhante caído no tremendal. Eu serei sempre, na tua memória, o aro de ferro onde realçaria o teu brilho. A sociedade enxovalhou-te, impeliu-te, a golpes da miséria, à degradação dos corpos escravos do ouro; mas eu sei que a tua alma se vai alçando mais para a sua origem purificada por agonias superiores às minhas. A mim resta-me a independência para chorar; e tu não tens sequer esse desafogo, minha pobre Ângela! Eu sou mais feliz, e não queria sê-lo...

Estas leituras e os comentos de Joana despontaram as puas do amor-próprio. A satisfação renasceu.

Neste tempo, noticiaram as gazetas portuenses que o general Noronha voltara de novo a Paris, e recolhera a Portugal sem esperanças de cura, sendo um dos seus flageladores padecimentos uma quase cegueira, que lhe tornava horrorosa a existência no seu solitário palacete de Ponte.

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pág. 108 (Capítulo 19)

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 108

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174