Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 21: XXI - Morre Hermenegildo

Página 120

Hermenegildo pegou a dar gritos que o doutor o mandara envenenar na tisana da quina. Os médicos, chamados um de pós outro, iam cedendo o passo ao último, indignados da aleivosia com que o estúpido enfermo caluniava o ilustre carácter de Francisco Costa e o do seu substituto.

A doença entrou no décimo quarto dia, com mortais sintomas. Aquela massa reagia com frenesi ao esfacelar da morte. O gemer dum doente vulgar era em Hermenegildo um rugir ferocíssimo. Rosa Catraia ganhou-lhe medo, e fugia da beira do leito receosa de que o legado do moribundo fosse algum daqueles murros que fendiam o espaldar do leito. Recolhida em sua dor, a choruda alvéola da ribeiras de Barrosas começou a cobrir com as asas os brilhantes e notas que se lhe depararam na sua irrequieta angústia. Nestes transes foi-lhe grande auxiliar um criado da casa, parente em quarto grau do patrão, rapazola de espáduas anchas, que prometia reabilitar os créditos de Rosa por meio dum decente matrimónio, logo que seu patrão e primo “desse a casca”, frase lírica e pitoresca da Catraia.

Assim, pois, que o último assistente declarou perdidas as esperanças de cura, o primo de Atanásio começou de arrebanhar os livros e papéis do moribundo - cuidado que lhe tinha sido sobremodo recomendado do Porto, logo que Hermenegildo adoecesse gravemente. Notou o arrecadador dos livros comerciais que os haveres do moribundo, superiores a duas centenas de contos, estavam em poder de Pantaleão, de Joaquim António, e de seu primo Atanásio José, repartidos em avultadas somas, das quais Fialho tinha cobrado as declarações encontradas, e lavradas com suficientes solenidades legais. Este quarto ladrão que descobria os três do Porto considerou-se o melhor colherdeiro da herança, porque desde logo computou a percentagem a auferir.

<< Página Anterior

pág. 120 (Capítulo 21)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 120

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174