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Capítulo 21: XXI - Morre Hermenegildo

Página 121

Um conhecido do agonizante levado de escrúpulos, entrou-lhe ao quarto com o prior da freguesia, homem de respeitáveis cãs, e, na serenidade límpida do rosto, um como mensageiro e núncio da misericórdia divina.

Hermenegildo encarou nele com assombro, e regougou a trancos de voz cavernosa:

- Vá-se embora, que eu não morro desta vez.

- Assim o permitirá Deus - respondeu o sacerdote com grave compostura - mas os benefícios dos sacramentos não utilizam somente aos que vão à presença do Senhor.

- Não me conte histórias - tartamudeou o brasileiro, rolando-se de modo que lhe virou as costas.

- Meu irmão - tornou o sacerdote de Jesus - veja se tem na sua alma ofensas a perdoar, ou ódios de que peça perdão. Quando Deus for servido chamá-lo a contas, a sua alma não poderá voltar as costas à face do supremo juiz.

- Não me matem! - rugiu Hermenegildo, barafustando.

O padre quedou-se a contemplar de braços cruzados e o coração em Deus aquele espetáculo, suplicando graça para rebeldia tão estranha na suprema hora.

A graça divina esquivou-se. Contra a benigna teologia de boníssimos casuístas, vivo persuadido que Lúcifer estimaria que certas almas, à última hora, limpas pela contrição, se guindassem à glória, a fim de lhe não sujarem o inferno.

O sacerdote retirou-se, quando viu que a sua presença sobreafligia o doente.

Era meia-noite.

Desta hora até às cinco da manhã Hermenegildo pediu água já nos demorados paroxismos, e ninguém se abeirou do seu leito.

Cinco horas vasquejou sozinho, e, aos primeiros assomos do dia, rendeu... a alma.

Rosa, acordada pelo futuro marido, perguntou se o patrão tinha acabado.

- Acho que sim, que já não ouço nada - disse o criado, e foi chamar o primo de Atanásio para tomar conta de algumas arrobas de carne em putrefação, onde estivera uma alma “criada à imagem e semelhança de Deus”.

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pág. 121 (Capítulo 21)

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 121

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174