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- Oh, doutor? Não me deixa ser ao menos pai! - sorriu o velho.
Ângela entrou vestida como em casa, apenas coberta duma capa de pano preto. Acercou-se do pai, ajoelhou, e abraçou-o pela cintura. O conde inclinou a face para a cabeça dela, e murmurou:
- Deixa-me ver a tua face, minha filha.
Ângela encarou-o entre risonha e lagrimosa. O velho contemplou-a com a fixidez duma vista débil, beijou-a na fronte, e disse:
- Benvinda sejas!... És a minha pobre Ângela!... Perdoa à tua fatalidade e à minha... Levanta-te, e senta-te aqui ao meu lado.
Joana, Vitorina e João Pedro choravam soluçantes.
- Por que chora esta gente? - perguntou o general.
- A satisfação de ver Deus neste lance - disse Francisco.
- Então, alegrem-se! - tornou o conde. - Ângela, que é de teu marido e teu filho.
- Meu marido está aqui... - e apontou Francisco.
- Onde? Quem? teu marido!... Quem é?
- Eu, senhor conde! - disse Costa, inclinando-se a beijar-lhe a mão. - Antoninho, vem cá...
A criancinha correu aos braços do pai, que o levantou aos lábios do avô.
- Deixem-me pensar nisto que é um sonho, meu Deus! - volveu o general. - Tu, Ângela... és a esposa... de Francisco Costa...
- Sou, meu pai..
- Estou, portanto, em casa de minha filha... do meu genro... És o anjo que me velavas de noite... és, minha Ângela?... Aqui me trouxe Deus, a restaurar a luz da minha alma, e a descerrar as trevas dos meus olhos para vos ver, meus filhos!
- Senhor conde - disse o cirurgião muito comovido. - Eu queria evitar-lhe lágrimas; mas não sei se me enganaria, porque também comigo me enganei. O que mais me comove é pensar eu que vossa excelência tardou tanto em procurar o puro e santo coração de Ângela. Eu ofereço a vida de meu filho a Deus que me castigue o temerário juramento: juro por Deus que não há uma nódoa na alma de sua filha, senhor conde.